sábado, 8 de janeiro de 2011

Do Entendimento

"Quanto a mim, quando entro profundamente no que chamo de eu próprio, deparo sempre com uma qualquer percepção específica de calor ou frio, luz ou sombra, amor ou ódio, dor ou prazer. Nunca sou capaz de me encontrar sem uma percepção, e nunca sou capaz de observar nada além da percepção. Quando as minhas percepções são removidas durante algum tempo, como por exemplo durante o sono profundo, torno-me insensível quanto a mim e poderá dizer-se verdadeiramente que não existo. E caso todas as minhas percepções fossem removidas pela morte, e não pudesse pensar, nem sentir, nem ver, nem amar, nem odiar após a dissolução do meu corpo, eu seria completamente aniquilado, e não concebo o que mais seria necessário para me tornar uma absoluta não-entidade. Se alguém, após séria e objectiva reflexão, considerar que tem uma noção diferente de ele próprio, devo confessar que deixarei de poder dialogar com ele. Só poderei conceder-lhe que ele poderá ter razão, tanto quanto eu, e que somos completamente diferentes nesse ponto. Ele poderá, talvez, apreender algo simples e continuado a que chama ele próprio, embora eu tenha a certeza de que tal princípio não existe em mim."

Tratado sobre a Natureza Humana
Hume

Sem comentários: