Pergunta: Então, a evolução consiste num declínio progressivo do egocentrismo.
Ken Wilber: Sim, um descentramento contínuo. Howard Gardner fornece um resumo perfeito da investigação conduzida nesta área. Vou ler uma citação breve deste autor, porque, na verdade, diz tudo. Começa por notar que o desenvolvimento em geral é marcado pelo "declínio do egocentrismo". E prossegue "A criança pequena é completamente egocêntrica - não significando isto que pensa de forma egoísta acerca de si mesma, mas o contrário: é incapaz de se diferenciar a si mesma do resto do mundo; não se separou ainda dos outros ou dos objectos. Assim, acredita que todos os outros partilham a sua dor ou o seu prazer, que os seus resmungos serão inevitavelmente compreendidos, que a sua perspectiva é partilhada por todas as pessoas, que mesmo os animais e as plantas partilham a sua consciência. Ao jogar às "escondidas", ela "esconder-se-á" à vista de todos, pois o seu egocentrismo não a deixa ver que os outros estão conscientes da sua localização. Todo o curso do desenvolvimento humano pode ser visto como um declínio contínuo do egocentrismo [...]".
P: Então, o narcisismo ou egocentrismo (...) decresce progressivamente?
KW: Exactamente. Como a diferenciação está no seu ponto mínimo, o narcisismo encontra-se no seu ponto máximo!
Esta centralidade do eu vai diminuindo à medida que a identidade da criança se desloca do fisiocêntrico para o biocêntrico (...). A criança não trata o mundo físico como uma extensão de si mesma, pois agora o eu físico e o mundo físico estão diferenciados. Mas o eu emocional e o mundo emocional não se encontram ainda diferenciados e, assim, todo o mundo emocional é uma extensão do eu: narcisismo emocional no seu ponto máximo. Ou eu biocêntrico ou ecológico (...) é, portanto, ainda profundamente egocêntrico. O que ele sente, o mundo sente.
O narcisismo decresce, ou declina uma vez mais, com a emergência do eu conceptual. O eu é então um ego conceptual, mas esse ego não consegue ainda assumir o papel do outro e, portanto, o ego primitivo é ainda substancialmente narcisista, pré-convencional, egocêntrico.
Por isso, por vezes resumo este narcisismo decrescente como indo do fisiocêntrico para o biocêntrico e, daí, para o egocêntrico, no entendimento de que todos três são egocêntricos no sentido geral, mas em grau cada vez menor. E toda a perspectiva egocêntrica passa por mais uma deslocação radical com a emergência da capacidade de assumir o papel do outro. Ponto em que o egocêntrico se desloca para o sociocêntrico.
Uma Breve História de Tudo (adaptado)
Ken Wilber